Os dias que nascem a preto e branco, só muito raramente morrem sem qualquer cor…


Por mais que insistam despejar chuva sobre os dias da primavera que sonhámos, nós estaremos sempre tranquilos e felizes, não só por sabermos nadar, mas também porque os beijos são insolúveis na água, tal qual no tempo.
Gosto e não temo os dias que nascem a preto e branco, porque, vencendo aquele possível desconforto inicial, são afinal uma suprema oportunidade de pintar a vida com todas as cores que eu quero e me pede a alma.
Para um assomo de paixão, peço emprestado, por momentos, o vermelho a um morango, convoco um pássaro para rasgar uma nuvem e me trazer uma nesga azul, do melhor céu, e com o pigmento amarelo de um qualquer malmequer do campo, consigo arranjar um tom muito honesto e que não envergonhe o sol.
Multiplico por milhões a folha verde que pedi ao limoeiro, e teço facilmente, um viçoso relvado sobre o cansaço cinzento de uma muito previsível estrada de alcatrão.
Depois de tudo isto, de que sou capaz, deito-me a descansar, recostado sobre um tufo de palha que ficou por ali.
E a chuva?
Apago-a com uma simples borracha que guardei dos meus tempos de rapaz.

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