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A mostrar mensagens de abril, 2018

A esquina entre Abril e Maio…

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Na esquina onde o tempo se despede de Abril, clamando por Maio, a água que o céu chorou emocionado pelas suas paixões, que são muito mais de mil, inspirará a terra para inventar as flores, naturalmente, sem presunção e sem ensaio. Abril ama a liberdade, que deixou no canto, na voz, nas mãos entrelaçadas, e até num cravo encarnado; e Maio tomará desse amor, o gesto, o gosto e a cor, perfumando os morangos e as cerejas, porque como é fácil de entender, a liberdade alimenta-nos, sendo, por isso, coisa doce para se comer. Abril calou o Homem velho, reinventando-o numa manhã de Páscoa e ressurreição, esperando que Maio, assim como todos os outros meses, não o devolvam aos túmulos bafientos, por entre um inusitado “deja vu” e a maior deceção. Na mesma esquina onde o tempo agora se despede de Abril, também um dia se despedirá de Maio, quando ele já estiver maduro. O tempo é assim, tem esquinas, para que nunca o aceitemos como inevitável, e possamos ajustá-lo a nós, moldando o futur

Enquanto espero que Abril floresça…

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Há muito poucos dias entrei no Panteão Nacional. Parei o carro no Campo de Santa Clara, andei entre tuk-tuks , tomei a bica num café dinamarquês, e esperei depois na fila, calmamente, para poder comprar o bilhete. Os estrangeiros buscam a varanda e o Tejo, muito mais do que qualquer memória dos lusos heróis, e por isso, caminhei sozinho entre os túmulos “daqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Sophia repousa em frente de Eusébio, e ali no meio, eu estou entre o sagrado repouso das mãos que ofereceram letra à maior e melhor poesia da alma, e os pés, que em gestos aparentemente simples e banais, semearam gritos de festa e orgulho na alma de um povo que forçavam a ser pobre e triste. A semana arrasta-se entre tormentos e azias, navegando entre os únicos cabos que restam, os das vassouras e dos trabalhos, em caravelas atafulhadas de influências para cumprirem a vaidade. A guerra é o desfecho natural da entronização da imbecilidade, e é aroma da in

Os dias que nascem a preto e branco, só muito raramente morrem sem qualquer cor…

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Por mais que insistam despejar chuva sobre os dias da primavera que sonhámos, nós estaremos sempre tranquilos e felizes, não só por sabermos nadar, mas também porque os beijos são insolúveis na água, tal qual no tempo. Gosto e não temo os dias que nascem a preto e branco, porque, vencendo aquele possível desconforto inicial, são afinal uma suprema oportunidade de pintar a vida com todas as cores que eu quero e me pede a alma. Para um assomo de paixão, peço emprestado, por momentos, o vermelho a um morango, convoco um pássaro para rasgar uma nuvem e me trazer uma nesga azul, do melhor céu, e com o pigmento amarelo de um qualquer malmequer do campo, consigo arranjar um tom muito honesto e que não envergonhe o sol. Multiplico por milhões a folha verde que pedi ao limoeiro, e teço facilmente, um viçoso relvado sobre o cansaço cinzento de uma muito previsível estrada de alcatrão. Depois de tudo isto, de que sou capaz, deito-me a descansar, recostado sobre um tufo de palha que

O homem e a árvore que fala

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Num dia de Abril de um ano qualquer, o homem sem pressa e sem idade, varreu as palavras avulsas que estavam espalhadas no chão de um velho telheiro, juntou-as todas, colocando-as de seguida, na terra fértil que um dia herdara da sua família. Era numa planície imensa, e nas margens da mais generosa das ribeiras. A vida emerge da esperança, muito mais do que da água ou da fertilidade dos elementos físicos da terra, e por isso, não se surpreendeu, o homem, nem ninguém, quando das velhas palavras surgiu uma árvore frondosa, que lhe ofereceu a alegria de uma sombra imensa, verdadeira bênção da história para os dias mais quentes do ano. Os “milagres” são consequências da confiança, porque só esta permite ultrapassar tudo aquilo que se julga impossível. Por ali, sob a copa da árvore, passou a sentar-se, sossegado, o homem, tomando a paz dos entardeceres, e chamando também os amigos, muitas vezes, para juntos saborearem, alegres, e pela noite fora, os frutos desta sua árvore favorit