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A mostrar mensagens de novembro, 2014

Os amigos são anjos, não porque tenham asas, mas porque nos ensinam a voar

Passei há pouco pela estante do escritório aqui de casa. Sei de cor todos os livros que me deste e que estão lá desde o verão de noventa e um. Retirei e folheei alguns sem ler nada, porque as palavras que me acodem à lembrança são aquelas soltas nas tardes de domingo em que após a missa no Chiado e um Cozido à Portuguesa numa tasca algures na Bica, tomávamos o eléctrico 28 até aos Prazeres, para depois desde ali caminharmos até tua casa; tomávamos um chá e líamos Pessoa, Sophia, Antero, discordavas do meu fascínio por Ary, e marcávamos o romance que iriamos ler na semana a seguir… um problema quando os de Agustina chegaram ao fim. Depois eu partia porque os meus camaradas esperavam por mim no Cais do Sodré e havia que cumprir mais uma semana de recruta em Tavira. Partia mas sempre com uma caixa de biscoitos que me tinhas preparado e que eu arrumava no saco entre as palavras de Agustina ou Saramago. E também entre o eco dessas palavras que insistias sempre em repetir: - Joaqui

E eu sou eu no melhor que tenho em mim tão só porque tu me sonhaste e fizeste assim

Seguimos os dois pela estrada ladeada pelos tons do Alentejo, e sou eu quem conduz numa brevíssima excepção, um mero hiato no tempo todo que tem a tua marca e o teu olhar. O caminho… todo o meu caminho foi desenhado por ti em coordenadas tecidas pelos sonhos, semeadas por beijos e alimentadas pela bênção de um despreendimento absoluto de ti; detalhes de um amor como nenhum outro e com marca de infinito. E eu sou eu no melhor que tenho em mim tão só porque tu me sonhaste e fizeste assim. Seguimos… E como sempre fazemos quando estamos juntos, conversamos muito; de nós, daquilo que nos move, daquilo em que acreditamos, das nossas coisas, das cumplicidades, falamos do presente, do futuro…   Entre nós há um desmesurado tráfico de amor, em tudo e também nas palavras, e eu não resisto nunca de fazer-te rir. Porque gosto de te ver sorrir por entre o orgulho e o amor com que sempre me olhas nos momentos que tu tornas especiais, aqueles em que definitivamente mais gosto de mim. À

O amor com a cumplicidade de uma velha giesta

Da janela do quarto a que chamo nosso pela intensidade com que te desejo, vejo ao longe um olival que se estende alinhado pelo monte; e lá no cimo e junto a uma velha ermida, o sol ao romper faz brilhar o ouro intenso de uma coroa de giestas. Atravessarei este Inverno esperando uma manhã de primavera… Os dois abraçados um ao outro e com a minha pele a saborear todos os detalhes da tua, nós seremos por entre o aroma de flor que a Páscoa sempre semeia nas laranjeiras, amantes rompendo madrugadas embalados pela herança de um amor perfeito inventado e vivido à luz da lua. Talvez então entre um beijo e outro, eu te cante uma moda como se usa fazer no Alentejo. Baixo… muito baixinho, que nós já acordámos mas o sonho que trazemos não queremos que se desperte nunca. E a canção que poderá até contar a história de um passarinho, falará por certo de amor. Numa manhã como esta... O quarto não resiste e far-se-á definitivamente nosso, trocaremos palavras, música do Cante do sul, e cl

O nosso Cante

Colou-se-nos à voz a dolência de oiro das espigas E do chão de barro que bendiz os nossos passos Colhemos cantigas A poesia que entrelaçamos com a voz num eterno abraço Do tom rubro das papoilas De sangue vivo se nos faz a coragem que esmaga o pranto O sol intenso do meio-dia As aleluias que ecoam livres pelos campos... E o suor é mote deste nosso canto  Com a teimosia dos sobreiros O alento do pão A alegria do tinto O tom da sinfonia que nasce da água que corre nos ribeiros... Somos a festa dos amigos que flutua entre a alvura da cal das ruas Às vezes com tanto de saudade O nosso canto O Alentejo colado à minha voz... À tua O hino da terra e da gente a cruzar a eternidade

FERNANDO EZEQUIEL

Há sorrisos e palavras que nos tornam os dias felizes, detalhes como flores raras que nascem de gente suculenta como as plantas. Sorrisos e palavras que brotam dos afectos mais profícuos que o coração nos manda seguir, neste ciclo do tempo em que cada dia é como uma lição de piano que não tem mais nada em vista a não saber o saborear do prazer inscrito na sequência e nos tempos que cada tecla, como cada instante, nos poderá oferecer. E é tão fácil gostar de ti, seguindo a recomendação do coração. Tenho a certeza de que tu e os astros terão por certo outra justificação muito menos simplista do que esta minha de poeta, para o facto do meu mau feitio de Caranguejo sensível se ter encontrado à esquina do tempo com o teu perfil fantástico de Sagitário; para meu claro benefício, pois por entre afecto e palavras, colho de ti infinitos sorrisos; não sei se já te deste conta de uma particularidade facial que te assiste, é que mesmo quando pões um ar sério e zangado, não consegues, e sor

Como se numa caneca de leite azedo o mais importante fosse a forma da porcelana

Eu não sou filiado em nenhum partido político, não tenho sequer uma fiel simpatia por qualquer agremiação de natureza partidária. Eu nunca me abstive numas eleições e reconheço o valor que os partidos políticos têm no contexto do funcionamento da democracia. Voto em consciência naquilo e naqueles que num determinado momento me parecem melhor opção para governar o meu país. Eu nunca me filiarei num partido político, já o sabia há muito mas reforcei a minha convicção. Nos últimos dias, mais do que o incómodo de um ex-primeiro ministro preso, choca-me a ridícula defesa fiel e cega do indivíduo feita por gente que considero honesta e intelectualmente superior. Com a liberdade entrincheirada nas masmorras das fidelidades partidárias e políticas, consegue até apelar-se à justiça, ferindo-a simultaneamente de morte, desprezando-a; uma vez que o apelo é sempre feito no sentido do reconhecimento da inocência, e isso é abrir-lhes os olhos que devem permanecer cegos, ensinando-lhe o cam

Abrimos as portadas e vimos o mar

Sobre a mesa-de-cabeceira, a do lado direito, por onde entro sempre na cama, tenho um pequeno livro com poemas de Pessoa que veio substituir há pouco "O búzio de Cós" de Sophia, que morou por aqui algumas semanas. Leio sempre algo antes de apagar a luz, nesse instante em que por entre Pai-nossos e Ave-Marias, os meus braços invejam o pensamento por não te terem aqui para te abraçar. Poemas, orações e as preces dos meus lábios, detalhes de uma imensa fé e de um querer infinito, para que um sonho te traga até aqui à minha noite, e para que o sono não corte o eterno pensamento que estando vígil, sempre me traz o teu olhar. Mas a esta noite acudiu-me a sorte... sonhei contigo. Havia um corredor imenso de um soalho que brilhava de cera, e os dois de mão dada, lado-a-lado, alternando olhares e passos, trocámos palavras até chegarmos a uma sala grande com janelas fechadas. Abrimos as portadas e vimos o mar. Depois, e sem que se explique, como sempre acontece ao sonhar,

JOSÉ MARIA

Na minha pequena sala onde agora escrevo há dois quadros pendurados na parede a que tu ofereceste os teus traços. Os traços e as palavras são elementos na mão dos poetas nessa doce alquimia de cantar a vida e tudo aquilo que os dias vão oferecendo. Ofereceste-me cada um destes quadros em Vila Viçosa, exactamente nos dias em que lancei os meus dois livros de crónicas e de memórias. Num dos quadros há a Praça da nossa infância, com laranjeiras e a igreja de São Bartolomeu; no outro estou eu com uma expressão em que me reconheço. Quando os dois percorríamos juntos a Alameda do Carrascal para apanharmos a automotora das sete e vinte da manhã que nos levaria para as aulas em Estremoz; talvez nunca tivéssemos sonhado que as nossas palavras e traços se cruzariam tantas vezes assim, brotando da amizade, alimentando memórias, cantando os nossos dias felizes no contexto de uma perfeita estereofonia de sentidos. Ou talvez sim… que a ousadia também nunca a deixámos órfã por entre o choro

Roma e um serão

Há um homem velho sentado que vende castanhas E uma gorda de ancas tamanhas... Que para disfarçar a sua idade De tão loura que está ofusca o sol sem dó nem piedade Um Japonês pragueja com o sinaleiro só porque ele o separou do guia Está furioso... A criatura distraiu-se na hora de atravessar a passadeira para fazer uma fotografia Numa loja de roupa... Um homem compra umas meias E na montra do lado... Um vestido de noiva faz sonhar duas raparigas feias Passa uma executiva toda perfumada Um casal dá um beijo E dois homens não travam o desejo... E caminham de mão dada Indianos vendem xailes e bugigangas Recipientes de onde saem bolas de sabão  Um pobre apela à caridade E passa um padre e uma freira que pelo esbracejar do cura está a levar um sermão Já passa das dez da noite Estou em Roma a passear E penso em ti Ai se estivesses aqui... Dar-te-ia tantos beijos que os meus lábios não teriam sequer tempo para o que estão a fazer ag

Três sentidos e meio

Sair ontem de Lisboa com um princípio de otite no ouvido direito e ser agitado sobre a Sardenha como o gelo num shaker, resulta numa semi-surdez com uma ressonância intracraniana de pôr louca qualquer criatura. Nem consigo saber se estou aos gritos, e com medo de estar, tenho tendência para falar mais baixo e ninguém me ouvir, o que já me irrita entre tantos “desculpe” e “sorry” que me atiram. Para além disso e nesta onda de “bem-estar”, resolvo ter graça e mandar uma mensagem em Italiano, com o Google a dizer-me que “um beijo infinito” se escreve “un bacio infinito”. A princípio soa bem mas depois de relido em Português é um pouco estranho pois parece que estamos a acusar a outra pessoa de sofrer de poliúria e não fazer outra coisa a não ser “xixi”. Desinspiração. Depois de uma noite de trovoada o dia amanhece com sol, eu continuo a ouvir mal, mas tudo parece ser diferente até ao momento em que no pequeno-almoço começo a ver o buffet a escorregar, por pura ilusão pois os meu

Há instantes que são infinitamente maiores do que a hora que os acolhe

Há instantes que são infinitamente maiores do que a hora que os acolhe porque concentram em si a dimensão da própria vida. E vive quem cumpre desejos com a convicção de se alinhar com o destino, muito mais do que quem colecciona o tempo deslizando passivamente pelos dias sem que neles ouse deixar o perfume de uma sua qualquer marca. A noite está amena, Lisboa insiste em oferecer-nos calor mesmo por sob algumas luzes de Natal já acesas no Chiado; eu caminho contigo ao meu lado e aqui e ali, sem que por vezes tu dês conta, olho feliz para a perfeição que o meu desejo vê em ti. Os meus passos sentem-se alinhados com o destino, porque a minha vida não pode ser mais nada do que este cúmplice caminhar contigo. Este instante tem então uma dimensão muito maior do que apenas um fim de tarde, tem raízes de quase cinco décadas e a vontade de um futuro que o multiplique até à eternidade em milhões de pétalas e folhas que de amor me perfumem mesmo os recantos mais escondidos de todos os d

Quatro letras e a mesma dimensão de amor e vida

Numa longa conversa ontem ao telefone com uma “velha” e querida amiga, fiquei a saber que recentemente e numa reunião de índole religioso e católico em que ela participou, dois indivíduos se envolveram numa discussão em que entre gritos competiam sobre as horas que um e outro dedicam diariamente à oração. Se o diálogo inter-religioso não vai bem, digamos que o intra-religioso não vai melhor… E Deus que já é tantas vezes apenas e só, um bom pretexto para arear visons ao domingo, até porque as igrejas costumam ser bem arejadas e cheias de correntes de ar; vira assim assunto de discussão ao nível de um penalti mal assinalado que se discute no balcão do café numa manhã de segunda-feira. Presumo que estas discussões sejam aceites em fóruns religiosos, mas só a partir do momento em que se saiba que nenhum destes indivíduos é gay ou já cometeu o gravíssimo pecado de recasar, porque isso sim é que são atitudes graves na ofensa a Deus, apesar de envolverem honestidade e fidelidade ao a

My hands

I’m giving you my hands Mothers of caresses Hands from the genetics of an endless love Address of blessings harvested from the angels’ cots I’m giving you my laugh that knows so well how to supplant the weeping My lips that have dressed kisses in singular bodies. Guardians of gold and diamonds souls I’m giving you my words A forever yes And this human being that never resigns and nothing see too far I’m giving you the Day The Night The lap that it will be your home The Lights The Party The Magic… And I will make you fly Without needing any wing I’m giving you my eternal life The sky that I see in everything and it is part of me Marco? Celia? Names are irrelevant details from the dreams that put flowers in our days From heroes who win the time and create a piece of paradise in everything I see

Nunca mais é verão…

Atravessar a ponte 25 de Abril em direcção a Lisboa num fim de tarde ao redor do São Martinho não conseguindo ver um palmo à frente do nariz, debaixo de uma chuva torrencial e sob um vento aterrador que nos abana a nós, ao veículo e à própria ponte; faz-nos desde logo pensar que é infundada a expectativa de um verão patrocinado por uma qualquer santidade, e os tempos são definitivamente outros e capazes de desmentir o “Borda d´Água”, que até é distribuído pela minha editora… Desde logo porque os heróis já não são os generosos que rasgam as capas para as poderem partilhar com os mendigos; muito antes pelo contrário, são “santos” elevados aos altares pelo mediatismo e pelo marketing político, social ou outro, que sacam os “K’s” ou até os milhões de Euros em seu proveito fazendo com que floresçam mendigos. E o Homem, cuja definição foi afinada para “ser vivo que respira e que vive rodeado por bancos”, deixou de ter a felicidade como objectivo último, para passar a ter esse grande

Há manhãs às quais pedimos silêncio para podermos usufruir do eco das noites

Caminho rumo ao sul por entre sombras, e a pouco e pouco, e coberto pelas nuvens, o sol vai despertando as cegonhas que há muito têm casa no cimo das ruinas de um velho moinho que fica mesmo ao lado da auto-estrada. As árvores emergem da penumbra, e só os choupos e uns raros plátanos insistem em falar de Outono por entre a constância verde dos sobreiros e também das muito mediterrânicas oliveiras alinhadas nos seus corredores traçados a régua e esquadro. Do café onde paro para descansar um pouco tenho vista para uma festa de ruborizados medronhos e para o desenhado voo de uns muito animados tordos que os namoram. O castelo de Evoramonte está envolto pelas nuvens e adensa mistérios nas convenções que não rejeitamos nunca fazer com o além. E eu sigo sozinho e na aparência de não viajar por entre palavras, muito ao jeito de quem segue pé ante pé, por não querer despertar o dia. Há manhãs como esta, manhãs às quais pedimos silêncio para podermos usufruir do eco das noites. Eu

E sempre sem margens…

Aqui sob os suspiros cúmplices do luar de Lisboa, faço-me irmão deste rio e esqueço todas as margens na suprema ambição de ser mar. Aqui, no momento que tu me ofereces e de onde tudo se avista pequeno; que a eternidade não poderá ser mais nada, para lá deste abraço que nos faz respirar o mesmo ar ao jeito de um longo beijo onde por entre barbas se libertam palavras de amor. Sem margens…  Nós, a eternidade e o mar. E o futuro, promessa deste instante, será um entrelaçado caminhar numa rua de Lisboa atapetada de flores, por sobre as relíquias das lágrimas cravejadas na espera em que apenas me alimentava da esperança que chegasses. Uma rua que conduz inevitavelmente ao mar. E o futuro seremos nós, o amor e um abraço de onde se soltam palavras de amor… A eternidade… e sempre sem margens. 

Os melhores dias para plantar flores

Há dias que apelam aos óculos de sol para que possamos camuflar aquela lágrima furtiva rematada pela alma e que não é defendida a tempo pelo autocontrolo que a razão sempre nos impõe envolto pelos panos opacos da discrição. E por mais que alguém se esforce para nos fazer virar o pescoço e colocar o olhar de frente para o lado mais colorido e viçoso da vida, somos invadidos por uma crónica rigidez muscular que nos torna fieis a esse lado obscuro e lunar onde tudo é, ou pelo menos parece, negativo. Nem as palavras, nem as memórias, as gargalhadas, nem o café quente aromatizado com açúcar… A obsessão é total e nada parece eficaz como “relaxante muscular”, porque a cada argumento positivo que alguém nos apresente, nós respondemos com pelo menos dois em sentido contrário, dos tais que justificam este estado de espírito. E a lágrima lá vem por aí acima.   Acontece a todos e até aos melhores, e acontece muito particularmente quando saímos daquela zona de onde bebemos conforto por

Os dias aos quais nem os impossíveis resistem

Há dias em que as palavras esperam por nós à esquina das horas e se nos colam à voz dando uma fantástica expressão de verdade aos sentimentos. São aqueles dias aos quais nem os impossíveis resistem. Na velha pasta preta de cabedal levo as palavras escritas que chegaram de um serão em casa quando o pensamento se elevou até às histórias dos anjos que pela alma são maiores do que quaisquer corpos que os envolvem.  A Rainha de Espanha está na plateia pronta para me ouvir e as palavras fluem facilmente porque elas exprimem a verdade dos heróis que serão sempre maiores do que os ocupantes de quaisquer tronos humanos; e maiores do que quaisquer reservas que eu possa ter perante uma real plateia. Eu sou apenas o porta-voz do mérito desses heróis imensos maiores do que o tempo ou quaisquer circunstâncias. Aprecio a lua cheia quando em Vila Viçosa saio de casa e vou em direcção à tertúlia que inspirada na minha conterrânea Florbela Espanca, nos convoca hoje para falar do Alentejo e d

AS MINHAS MÃOS

Entrego-te as minhas mãos Mães de carícias Mãos da genética de um amor sem quanto Morada das bênçãos colhidas dos berços que embalaram anjos Entrego-te o meu riso que tão bem sabe suplantar o pranto Estes lábios que vestiram beijos em corpos singulares… Guardiões de almas de ouro e de diamante Entrego-te as palavras Um eterno sim E este ser que nunca se resigna e nada vê distante Entrego-te o dia A noite O colo que será a tua casa As luzes A festa A magia… E faço-te voar Sem que para tal precises de qualquer asa Entrego-te a vida que eterna se me colou ao ser O céu que vejo em tudo e guardo em mim Marco? Célia? Os nomes são meros detalhes de sonhos que de flores nos enchem os dias De heróis que vencem o tempo e jamais terão um fim

Mas o que importa a noite?

O relógio de casa permanece na hora antiga, mas também, o que é que isso importa? O dia é o sol que o faz com independência da forma como contamos o tempo. Estamos os dois sentados com as pernas cobertas pela saia que esconde a braseira acesa por debaixo da camilha. Já é Outono. As nossas mãos acariciam-se à medida que o creme que cheira a limão te tenta matar a “secura” provocada pelas semanas de hospital. Soltam-se palavras, e claramente já realinhámos as memórias. Voltaram os dias mais felizes. Depois vem o chá, as torradas, a compota de abóbora, e continuamos a conversar. Parece que as palavras entre nós nunca se acabam e nascem da arte de saber cuidar; só o tempo faz alternar a definição de emissor e receptor. E as palavras são apenas detalhes de um imenso amor. Em breve irá anoitecer, o sol já se escondeu por detrás do palácio. Mas o que importa a noite? O sol em breve voltará a fazer o dia acontecer. E nós nunca contamos o tempo… e jamais tememos a noit

Basta tão-só querer muito

Há muito me habituei a escutar o vento que sopra forte ao redor de casa, por entre o silêncio que procuro e patrocina as palavras que vou escrevendo. Às vezes paro e presto atenção ao ruido que se solta da lareira e que com o tempero da imaginação se converte rapidamente numa voz que sussurra estranhos ou doces segredos; talvez porque tudo pode ser muito mais do que o simples que é de verdade, tudo pode ser aquilo que queiramos que seja. Basta tão-só querer muito. Ontem enquanto recolhia a roupa que secara à janela e que eu estendera na véspera, caiu-me aos pés uma pequena folha de plátano com uma assumidíssima cor castanha, detalhe de Outono que o vento, que tantas vezes conversa comigo, fez subir até ao sexto andar do meu prédio e fez prender-se a alguma das minhas camisas. Recolhi-a, apreciei-lhe a perfeição, e pousei-a depois no móvel da entrada junto a um dos presépios da colecção. Continua lá depois de me ter proporcionado um serão com muitas palavras de Outono. Os

A Bardana e a Higiene Íntima Feminina

Ontem durante um almoço fiquei a saber que as senhoras que escrevem e opinam nos blogues da moda cobram em média 1.500 Euros por uma menção positiva a um determinado produto ou serviço, provando que as tias começaram por vender croquetes e carapaus com natas mas depois alargaram definitivamente o seu âmbito de acção, aproveitando a atracção que o seu estilo de vida exerce na populaça em geral, sobretudo nas candidatas a Miss Quinta da Marinha. Um amigo que comercializa um produto destinado à higiene íntima feminina, solução fantástica de pH alcalino suave enriquecida com Bardana e sem parabenos, corantes e fenoxietanol, foi muito recentemente confrontado com esse facto. Para que as autoras pudessem dizer que a Bardana lhe proporcionava uma fantástica sensação de frescura, era necessária a transferência da tal quantia; e possivelmente com gorjeta até seriam capazes de dizer que o tal produto até põe os bidés a cantar jazz e a bater palmas. Ora perante este facto, apraz-me dizer

Tu teces as manhãs em que me apetece cantar

Espreito o Rupert Everett a desafiar a Julia Roberts para dançar ao som the “I say a litle prayer for you”, numa batida que reinventa a famosa canção da Dionne Warwick, e naturalmente alinho a minha voz com o som que se solta do i-Pad. Há manhãs assim, em cujo despertar parece insistir em querer prolongar os sonhos da noite, inundando-nos dos melhores pensamentos naquele instante em que abrimos os olhos e nos espreguiçamos alarvemente em todo o esplendor dos lençóis brancos que ainda cheiram ao aroma campestre do detergente. E às vezes acabamos por saltar da cama a cantar. Acho que dormi toda a noite entrelaçado nos teus beijos, senti o tom quente dos teus braços nos meus, e dormi embalado pelas tantas palavras que se soltaram de nós naqueles instantes em que a lua chegou para nos alumiar na generosidade e na ousadia de substituir o sol. Guardei detalhes, sorrisos, respirares, desabafos, segredos, revelações… e o teu olhar foi hoje o primeiro pensamento por entre a consciênci

Bruxas e autoproclamados santinhos

Detesto bruxas, e o inevitável convívio diário que a vida me impõe que tenha com elas, leva-me a quem nem morto as celebre em qualquer noite especial dedicada ao efeito. Sim, porque as bruxas andam por aí em todo o lado, sem nome, filiação ou género específico, a voarem sem vassouras por sobre a inteligência humana; sem nunca sequer conseguirem pousar para lhes tomar um arzito que seja. Se o diabo veste Prada, as bruxas vestem qualquer marca, e até pode ser a Zara, porque acham que tudo lhes assenta bem aos corpos espremidos em horas de ginásio e toma de diuréticos que as tornam escravas dos mictórios da humanidade. Acham-se lindas, quando algumas são mais feias do que bater na mãe; e não fosse o gloss que aplicam nos lábios mais ou menos retocados com bótox , e também nenhum brilho seria emitido pelas suas bocas, já que as palavras, por muito que se esforcem, são mais baças que as entrevistas da Teresa Guilherme no confessionário da Casa dos Segredos. Porque mesmo vestidas