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A mostrar mensagens de maio, 2014

Um passeio com “Cara de Mel”

Só a dona da pequena mercearia onde eu antes comprava os iogurtes para o pequeno-almoço parece ter resistido à “cirurgia plástica” que mudou a face da Rua da Escola Politécnica, em Lisboa. Até os empregados da Cister já não são os mesmos que antes comentavam connosco as notícias do jornal durante os pequenos-almoços de domingo que pegavam sempre com a hora do almoço, e onde tinha sempre lugar cativo o saudoso José Medeiros Ferreira. Mantém-se na “velha” pastelaria a memória do Eça, e num esforço grande da minha memória, ainda consigo ouvir o eco das nossas gargalhadas quando comentávamos as proezas vocais da funcionária que nos vendia as peúgas na Poli, o pronto-a-vestir quase em frente à Imprensa Nacional; criatura que insistia em “arfar” salmos, dado que era ela dotada de tanto jeito para cantar como eu de arte para fazer ponto de cruz. É tarde de sexta-feira e eu vou à missa das 18.30 horas na Capela de Monserrate, às Amoreiras. Há sol, há chuva lilás dos jacarandás e eu não re

Vida e liberdade

A terra é muito mais de quem a pisa descalço, do que de quem a assinala como sua na formalidade de escrituras notariais, delimitando-a com cercas, grades e marcos… O amor é usufruto de quem deseja, de quem beija e de quem abraça; muito mais do que de quem segue todas as regras e modelos, e se auto-escraviza “atando-se” aos grilhões das convenções… O mar é muito mais do pescador que lhe beija as ondas todos os dias no instante de puxar as redes, do que de quem o atravessa veloz no conforto de uma aeronave que bate recordes… O sonho é muito mais daquele que quer do que daquele que pode… A vitória é daquele que corre para chegar à meta e nunca daquele que vive sentado na meta, confortável e feliz, vendo passar o tempo no cronómetro que não lhe oferece quaisquer desafios… A poesia é sempre do poeta, é daquele que escuta as palavras que lhe são segredadas pela sua própria alma, e nunca daquele que consegue comprar todas as palavras que um dia foram ditas e escritas por todos os p

Os pés

Há doenças raras que tornam as pessoas super especiais. É um rapaz único e raro que brinca hoje à minha frente enquanto estou na sala de espera de um hospital. Há espaço e o pai ensina-o a caminhar começando pelo princípio: a forma correcta de colocar os pés. A criança que terá uns três anos já dá os primeiros passos, e procura-me com o olhar e o sorriso na hora de os celebrar abraçado ao pai que a cada pequeno conjunto de passos lhe oferece um beijo. Percebo que esta criança vai um dia caminhar sozinha e feliz, percebo-o na sua alegria, no amor que a envolve e também, e muito, na perseverança do pai. Sinto-me pequeno perante tanto amor assim à solta à minha volta nesses instantes em que aquilo a que tantas vezes chamamos problemas adquire o estatuto de ridículos pedaços de quase nada. Não tarda a que o rapaz siga para a consulta montado agora no carrinho onde descansa, e eu faço-lhe adeus. Juro que sei que ele vai andar. Estou em Coimbra e a Universidade atribuiu hoje o

O castelo e a poesia

É certo. Não é forçoso que saíamos de nós para que se solte a poesia. Dentro de mim há um castelo imenso que é guardião de um tesouro maior, a memória; essa mesma que se espraia sem amarras na varanda do pensamento, num cortejar permanente com os sonhos que se libertam das vontades da minha alma. E nestes dias assim tristes de uma chuva que corporiza a traição do sol à primavera, eu sento-me aqui sozinho; sem palavras, sons ou outros sinais de gente… e fechando os olhos espreito para mim, vendo pelas frestas e guaritas abertas na fria e racional consciência, esse doce namoro de memórias e sonhos. O passado entrelaçado ao futuro, os dois libertando “açúcar” sobre o presente. Um privilégio só meu mas com tanto… com tudo de ti. Juro-te, um dia far-se-ão curtos os caminhos para o tanto que os percorreremos juntos, serra acima; conhecendo de cor os detalhes das veredas, das árvores, das ribeiras e das flores que são bênção de cada uma das quatro estações. Juro-te, existirá um d

Eleições e consequências

No passado domingo houve eleições para o Parlamento Europeu e em Portugal estavam inscritos para votar 9.685.294 cidadãos. Juntando os que não votaram (6.402.742) e os votos brancos (144.859) e nulos (100.483), poderemos dizer que apenas 33% dos eleitores (3.037.210) conseguiu encontrar uma alternativa para votar. Equivale a dizer que os que não votaram, ou que então votaram branco ou nulo, têm dois terços dos votos e têm poder para alterarem a Constituição da República Portuguesa se resolverem converter os seus votos em deputados na Assembleia da República. Um parêntesis para dizer que respeito mais quem votou branco ou nulo do que quem não votou, pois estes últimos deixam em aberto a interpretação para a sua atitude. Não votaram porque estavam em viagem pelo estrangeiro, por exemplo, ou não votaram porque queriam mostrar o seu desagrado pela situação do país… e da Europa. Em relação aos eleitores que seleccionaram um partido ou coligação poderemos dizer que são menos do que o

O girassol

Quando usávamos bibe e calções, e brincávamos juntos em Vila Viçosa aproveitando a sombra das laranjeiras da Praça de República; jamais terá passado pela minha cabeça e pela do meu amigo Manuel, que um dia estaríamos sentados à mesma mesa na mais antiga Biblioteca Municipal de Lisboa, a contar uma história que nos tem a nós e às nossas histórias, como heróis. Talvez a magia comece aí na surpresa que a vida sempre encerra, e termine depois na forma especial de olhar as coisas mais simples do universo, sentindo-as como privilégios únicos que nos fazem crescer. Porque o amor se esconde sempre por detrás das coisas mais simples, quer falemos de bolachas; ou então falemos de beijos, de abraços ou até de simples olhares. A sala da Biblioteca de São Lázaro tem uma forma única e as paredes forradas pelas palavras libertas de tantos livros intemporais, são idênticas e ao jeito da vida dos Homens nas formas perfeitas que o saber sempre lhe oferece. As palavras que se soltaram desta hist

A magia

A minha amiga Marta, quem no contexto do meu grupo de amigos veio inaugurar a geração a seguir à minha; não se importará por certo que eu conte esta pequena história que se passou naquele tempo em que a víamos cheia de sono ao redor do nosso Trivial Pursuit, a mandávamos para a cama e ela respondia: - Não vou porque eu não tenho sono, só os meus olhos é que têm. Quando o pai, o meu amigo Zé Maria, lhe contava a história da Carochinha para ela adormecer, e cheio de sono tentava antecipar a chegada do João Ratão por entre o desfile de animais que passavam por debaixo da janela da afortunada carocha, logo ela inventava mais um e outro animal para que a história jamais tivesse um fim. E passavam então jacarés, crocodilos, hipopótamos, gorilas, papagaios, rinocerontes… Amanhã vou lançar o livro “As bolachas mágicas da avó Inácia”, sendo que a avó Inácia é a minha mãe, a promotora de uma aventura que envolve os meus sobrinhos João e Luís, por via das suas bolachas favoritas; umas mu

A idade?

Quando na passada semana nos encontrávamos em Setúbal na fila para o ferry que nos levaria a Tróia, e uma colega estava a ser importunada por um vendedor de óculos de sol e relógios, uma espécie de “Canal Street com pernas”; eu aproximei-me e ela aproveitou a minha presença resolvendo inventar que eu era o seu marido. O dito vendedor soltou uma franca gargalhada acompanhada do comentário: - Este velho de certeza que não é o seu marido. Eu bem sei que tenho mais doze anos do que ela mas mesmo assim senti ganas de o mandar para bem longe dali ao mesmo tempo que pensava: - Olha este com a mania que é estrela… E tivesse eu quaisquer tendências depressivas e a coisa tomaria proporções de catástrofe no meu “sótão” e uma convulsão nos “macaquinhos” pois nessa mesma semana e quando comprava o bilhete para entrar no Mosteiro de Alcobaça, a funcionária, que nem olhou para mim e se encontrava em amena cavaqueira com a sua colega das limpezas, me perguntou: - O senhor não tem mais de 65

As viagens e os dias

A saída de Lisboa ao princípio da tarde com o GPS a apontar para o Porto e essa estimativa associada ao desejo de chegar cedo… Auto-estrada A8, A17 e uma chuva anormal para um mês de Maio que já teve tanto sol de primavera… Leiria, o rádio na Antena 1, um ruído estranho de metal sobre o asfalto e o carro a parecer ter vida própria numa espécie de emancipação e desprezo pela minha autoridade sobre o volante e os pedais… Encosto na berma, ligo os quatro piscas e nem preciso olhar para os pneus, basta abrir a porta e aí está… tresanda a borracha queimada: um pneu está desfeito. Praguejo as palavras do costume enquanto visto o colete reflector amarelo, que até nem me assenta mal, e me transforma de repente numa figura algures entre o avô do “Bob, o Construtor” e um genérico manhoso dos “Village People”. Busco o triângulo mais ao jeito de Indiana Jones, pois nos três anos de convívio com esta viatura nunca tive oportunidade de aprender que o mesmo habita na porta da bagageira den

Romaria

O sol intenso do meio-dia parece empenhado em fazer “murchar” as cores garridas das bandeiras de papel que o povo esticou em cordas pelas fachadas da aldeia. Lá no cimo, no campanário; o galo metálico, despojado de vontade própria e ao jeito de tanta gente, entrega-se ao vento, e por este, e por mais nada, toma rumo e posição. Ao lado, num avantajado ninho tecido pacientemente com paus do campo, uma cegonha entrega o bico aos congéneres pequenos dos seus filhos que a esperavam, recolhendo o alimento que um dia os fará crescer e voar, dominando os céus; indiferentes por agora às badaladas do sino que ali mesmo em baixo sinaliza a hora da fé dos Homens. Há gente, bombos e outros instrumentos de banda filarmónica espalhados pelas sombras das casas que têm rodapés de onde nascem pequenas roseiras. E o riso da festa ecoa pelos baixios que antecedem as searas já loiras do trigo, misturando-se mais além com o fumo do lume já aceso para roubar às bifanas e às sardinhas, os aromas respec

E tudo a Troika levou?

Hoje é o dia. A Troika “foi-se” e por inspiração do Dr. Passos Coelho, eu deveria estar a celebrar um novo 25 de Abril; segundo o Dr. Paulo Portas, eu deveria sentir a alegria do povo que grita “liberdade” por entre o heróico defenestrar do Miguel de Vasconcelos na manhã de 1 de Dezembro de 1640. Mas não fosse eu andar distraído e já ter posto no frio alguma garrafa de “Moet Chandon” para consumir ao jeito de cravos vermelhos em versão burguesa, a Senhora Dra. Helena Vaz, Directora de Serviços do IRS, encarregou-se de me enviar ontem uma missiva demasiado explicita em relação aos motivos de folguedo que me assistem. Numa acção bipolar e esquizofrénica, o Estado Português consegue dar-me oficialmente o estatuto de rico, ao mesmo tempo que me empobrece, definitivamente. Solteiro e sem filhos, sou condenado a “amamentar” o Estado com um “Coeficiente Conjugal 1” que me leva logo 48% do que ganho, o que sendo pouco ainda me obriga a uma sobretaxa extraordinária de 3,5%. Tudo somado

Perder

Gosto de perder-me, muito mais do que perder. Perco-me no instante de uma paixão porque instintivamente deixo de ser eu e passo a ser muito maior por impulso dos abraços, dos beijos, das palavras de amor, dos instantes perfeitos em que a alma se eleva até ao sonho e eu sinto prazer. Perco-me no olhar, nos gestos e no discurso simples e puro de uma criança, o tudo que me devolve assim aos dias em que eu também fui criança. E depois, quando “acordo”, sinto que me perdi no menos que era antes para passar a ser um adulto muito melhor. Perco-me num abraço e no beijo dos meus pais, esses tácteis insuflares de amor que me acrescentam vida. Perco-me no campo por entre os aromas todos, o generoso canto dos pássaros, a liberdade que o meu olhar conquista para lá dos horizontes, mesmo aqueles que às vezes parecem impossíveis. E perco-me no pobre que era para passar a ser dono do mundo. Perco-me à mesa dos amigos, no riso das anedotas por entre os abraços, nas cumplicidades por sobre es

Os Euros e as birras na asfixia da minha terra

A escola primária para onde eu entrei em 1972, a “Escola Masculina” que a liberdade entretanto transformou em “Escola Nº 1”, será em princípio encerrada no próximo ano, juntamente com a sua congénere número dois que nessa altura era a “Escola Feminina”. Ambos os edifícios são no centro de Vila Viçosa e ao que parece têm todas as condições para poderem continuar a assegurar a formação do primeiro ciclo das crianças da terra, mas, diz a rádio local, há que cortar nas despesas com funcionários. As crianças transitarão assim para o edifício da Escola do Segundo Ciclo, na periferia da Vila, com os alunos que actualmente frequentam esta escola, a serem transferidos para a Escola Secundária. Não importa se há dois edifícios que vão perder a sua utilidade, sendo transportados automaticamente e por estatuto para o “panteão” de monos e espaços devolutos e abandonados, o “punhal” que vai matando o centro histórico, despovoado em favor do “novo-riquismo Socrático” e dos seus apalaçados espa

Os dias, as dores e a fé

Tenho na mão a caneca com o café que todas as manhãs me perfuma a cozinha e que serve de complemento ao duche tépido na ajuda ao meu despertar. Estou à janela e aprecio o sol a brilhar sobre a manhã, que assim e sem qualquer laivo de timidez, é prenúncio de um dia assumidamente de Maio, este mês que fez desabrochar milhões de pequeníssimas flores coloridas nos campos que estão agora entre mim e o azul do Atlântico. O telefone soará em breve com doces palavras de amor… e há dias que nascem como este, com a aparência de perfeitos. Mas estou nervoso, vejo as horas que sinto aproximarem-se vertiginosamente das oito; e sei que por aí, as palavras, o som do riso… e a vida toda de uma amiga, estarão adormecidos e à mercê das mãos certeiras e do bisturi que a trarão de volta aos dias felizes. As dores que os dias guardam em si são as nossas e são as dos amigos, que é como se também fossem nossas. É dia 13 de Maio, recordo-me dos peregrinos de Fátima com quem me cruzei na estrada na

Os pássaros e os Homens que gostam de voar

Um Homem resignado é um pássaro auto-mutilado nas suas asas que entrega facilmente o céu ao voo de todas as outras aves. Então, prostrado nas pedras duras do caminho, apenas verá de céu, alguma qualquer pequena nesga de azul que as asas alheias em voo lhe quiserem deixar por dó e caridade. E um pássaro assim, sem céu, é um pássaro morto na sua raiz, na sua essência, mesmo que ainda possa continuar a respirar. Pelo contrário, um Homem ousado é um pássaro que dá vida às asas e que chama a si, o céu, buscando-o sem reservas e sem temer sequer os perigos que espreitam por exemplo, por detrás dos arbustos na pontaria certeira de um qualquer caçador. Poderá chegar o dia em que possa ficar ferido, quiçá morrer, mas nunca foi por si que o céu deixou de lhe sorrir e deixou de ser seu. E já tem muito de nosso, tudo aquilo a que aspiramos e pelo qual lutamos, mesmo que jamais consigamos ter dele posse total e efectiva. Para além de que a esperança que vive colada aos sonhos já nos fa

Elevar-se como uma Fénix

Na mitologia grega, a Fénix é uma ave que quando morre entra numa espécie de auto-combustão, renascendo mais tarde a partir das suas próprias cinzas. Quando viva, a Fénix tem uma força incrível, sendo capaz de transportar elefantes em voo, presos ao seu bico. Há algo de cinza nos dias que cruzamos, este tempo em que os Homens excluem outros Homens pelo tom de pele, pela religião, pelo poder económico e também, e muitas vezes, pela ousadia de amar diferente mas da forma que oferece verdade ao que manda o coração. Há muito de cinza da própria humanidade no pó destes dias tristes em que a perseguição, a tortura e a fome, ecoam demasiadas vezes por entre tantos tristes amanheceres. Conchita Wurst, ou Thomas Neuwirth, porque pouco importa, é um austríaco que venceu ontem o Festival da Eurovisão com a canção “Elevar-se como uma Fénix” obtendo pontuações máximas de toda a Europa, incluindo Portugal. Um homem de barba e vestido de mulher, mas que bem poderia ser uma mulher sem barba v

Alcobaça e uma manhã de primavera

Há góticas cúpulas, braços longos de pedra esticados pelos Homens na ânsia de chegar ao Céu, mas é aqui ao redor dos nossos passos que de Céu se sente o amor na eternidade de uma paixão: Pedro e Inês. Estas pedras beijadas pelos nossos pés de monges silenciosos resgatados hoje pela abadia ao bulício do Século XXI, estão cravejadas de História e gritam-nos convictas, que vazios e imbecis serão sempre todos os tronos, outros que não aqueles que nos fazem reis por verdadeira bênção do coração... E da fé cruzando os séculos, falaram por certo os dois sinos que repousam agora a um canto discreto da longa igreja. Os sinos assim pousados são como os Homens que desistem de o ser, como os tronos e os dias sem amor: não ressoam, estão mortos. Cá fora, no claustro e por entre as laranjeiras sem idade, há o soluço do correr da água de um rio e há flutuantes detalhes de primavera ao jeito de pedaços de algodão beijando-nos o respirar. E há o Céu, que é definitivamente muito mais de quem

Alho Francês à Brás

Chega sempre o dia em que o “simples”, por insistir tanto no realçar da sua simplicidade, se revela vaidoso; sendo afinal a simplicidade, apenas mais um dos argumentos que compõem o pedestal em que se coloca a si próprio, no centro da “rotunda” onde quer que tudo gire, o ciclo contínuo do culto despudorado do seu ego. É no mesmo dia em que o desprendido de bens materiais se “embrulha” em roupa de marca e compra móveis com nome e apelido, para decorar a sua casa; o "servo" veste a alva descartável da sua "santidade" e se coloca no altar da vaidade, ofuscando assim o Senhor da sua fé; o "caridoso" trai o seu gesto pelo reconhecimento ou recompensa humana ou divina que acredita estar à sua espera; "auto-proclamados" amigos e amores são denunciados pela indiferença que é marca da gestão dos dias feita apenas ao ritmo dos seus interesses... O “modesto” suicida-se pelo abuso do veneno do “eu já sabia” e do “eu sei”; o “puro” e o “limpo” não resist

Os átomos e as histórias

Maria Manuela, eu concordo contigo; de histórias, muito mais do que de átomos, se compõe e define a vida. As histórias guardam em si afectos e tornam eternos, todos os instantes dos beijos, dos abraços e a enxurrada de emoções de tantos, e às vezes tão ridículos amores. As histórias gritam palavras e fervilham com as sensações tatuadas aos nossos dias pela mão da gente com quem partilhamos a “estrada”. As histórias são essa mesma gente. As histórias riem e choram, por nós e como nós, dando expressão de verdade ao que alma sente. As histórias guardam dores, desalentos… E as histórias cantam, gritam vitória e oferecem-nos mar e caravela para que da nossa esperança nasçam as rimas de uma epopeia perfeita. As histórias são rotas, são caminhos, destino vão ou verdadeiro; e as histórias jamais sacodem de si, o pó dos nossos passos por sobre todas as agruras dos caminhos. As histórias são sonhos e são pedaços soletrados das nossas mais indispensáveis vontades. As histórias

Mc Lusitânia

Depois da "Mc Bifana", do "Mc Caldo Verde", e mais recentemente do "Mc Prego", é de prever que o processo de "Mequização" da Lusitânia e dos seus ícones possa continuar com a criação da "Mc Alheira", o "Mc Pão-de-Ló", a "Mc Queijada de Sintra", a "Mc Sardinha Assada", o "Mc Bacalhau à Brás" e até as "Mc Favas com Chouriço". Será na altura em que possivelmente já poderemos encher os copos e beber com a ajuda de uma palhinha descartável, um “Mc Tinto Carrascão”, um “Mc Branco Fresquinho”, um “Mc Vinho Verde” e até uma “Mc Jeropiga”. Para o final um “Sundae Ginjinha de Óbidos” com molho de chocolate. Tudo indica no entanto que este fenómeno não se restringirá à gastronomia, sendo possível que do novo programa da TVI, "Rising Star", possa sair uma "Mc Amália" especialista em "Mc Fado", música em que ao jeito das bifanas pré-mastigadas, a guitarra Portugue

Saídas limpas

Directamente da mesma sala onde há cerca de três anos José Sócrates anunciou oficialmente ao país que tinha negociado um excelente acordo com a Troika, Passos Coelho anunciou ontem que sairemos do programa de reajustamento no próximo dia 17 de Maio, de uma forma limpa, não deixando de evocar o 25 de Abril, que começa a estar para a política como o Santo António está para as desgraças do dia-a-dia; e tivesse estes meios D. Manuel I, e em 1498 teria usado iguais palavras de orgulho para anunciar a heróica chegada de Vasco da Gama à Índia. Para além dos diferentes protagonistas donos do microfone há a registar que o então Ministro das Finanças Teixeira dos Santos, com ar esfíngico e mumificado, foi agora substituído por todo o elenco governativo onde se destacava o vice Paulo Portas com aquele crónico e muito confortável ar de quem acompanha um filho que tira e come burriés durante uma recepção chique, um ar ao jeito de “se eu estivesse no lugar de Passos Coelho faria bem melhor”, disf

Mãe

Há um tudo de Céu debruado ao sorrir do teu olhar, e esse brilho que é meu tesouro, é bússola infalível no definir da minha mais do que certa e profunda sorte. Há o teu abraço que é sempre o prefácio de um beijo perfeito onde morre toda a minha idade, onde se apagam as penas que o tempo foi remendando aos meus mais tristes dias, e onde desaparecem todas as aparentes certezas do ser homem… e eu, nesse instante, devolvo-me ao doce de todas as ilusões, ao despudorado e assumido prazer de sonhar; e eu nunca me recuso a voltar a ser criança. Há o teu ninar que me aceita sempre como eu sou, e que a cada gesto me coroa príncipe que reina sobre o mundo inteiro, a Terra que roda toda na minha mão como um velho pião sobre o eixo da fantasia e lançado pelo legítimo impulso da esperança que tem ares de uma guita atada a uma velha carica. Há poemas soltos e sem rimas nas palavras todas que me dás, soletradas pérolas da inesgotável fonte que bebe da nascente do teu amor maior, esse amor de qu