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A mostrar mensagens de abril, 2014

A gente e as cores

Na passada segunda-feira e quando se preparavam para concluir as suas compras na minha vizinha loja dos supermercados Pingo Doce, os meus pais foram confrontados com uma operadora de caixa que lhes pediu para identificarem o conteúdo de um dos sacos, o das favas frescas, pois a dita criatura que sabia manipular toda a maquinaria à sua volta e saberia por certo distinguir todo o arsenal de maquilhagem com que se tinha transformado naquela espécie humana de árvore de Natal fora de época; não sabia distinguir favas de ervilhas. Fui “desenterrar” esta anedota urbana da “filha do betão” que se pôs à mercê de um casal de alegres Alentejanos para ilustrar esta minha convicção de que os cérebros humanos (ou em alguns casos, a ausência deles) andam desfocadíssimos naquilo que deve ser ou não alvo de distinção. Até aposto que esta criatura que não distingue vegetais tão diferentes no seu aspecto, sabe distinguir os Homens consoante a tonalidade da sua pele; porque não considero ser um acaso

As histórias eternas

Desde sempre ouvi contar que uma das minhas bisavós, a mãe do meu avô Francisco, entretinha os filhos e todos os amigos da vizinhança, contando-lhes histórias, ao mesmo tempo em que por acção de um velho candeeiro de petróleo, projectava na alva parede em frente da sua casa, as sombras dos dedos devidamente alinhados para que tomassem a forma dos personagens destes enredos que invariavelmente casavam os mistérios e as lendas que andavam de boca em boca ali pelas redondezas. Em Vila Viçosa e na velha Rua de Évora da qual restam apenas as fachadas da actual Avenida Bento de Jesus Caraça, do lado da Pastelaria Azul, que do outro lado era a Rua do Espírito Santo antes da reforma dos anos quarenta operada por obra do Engenheiro Duarte Pacheco; os serões quentes de verão tinham assim uma animação extra que beneficiava ainda e em muitas noites, da música produzida por alguns instrumentos artesanais que um outro vizinho tocasse ali pelas redondezas. Estas histórias também chegaram aos ser

As palavras

Indiferente às condições meteorológicas que poderão ser mais ou menos agrestes, às marés, à força das ondas, às estações do ano, à posição dos astros, às fases da lua, aos humores… e sendo muito mais do que apenas duas dúzias de horas oferecidas ao nosso passivo acto de respirar; os dias são fontes inesgotáveis de palavras. De palavras ditas, escritas, cantadas, desenhadas, choradas, soluçadas, subentendidas… De palavras e de silêncios, porque estes, porque as não têm, falam tanto ou mais do que elas. Os dias são então nascentes de palavras sublinhadas ou não pela tinta da melhor verdade, aquela que é dádiva gratuita do espelho generoso que é o olhar. E as palavras são assim e tantas vezes, perfumados detalhes tecidos a letras no tear de uma incessante poesia. Há palavras ocas, estéreis, vãs e sem qualquer sentido; ou palavras recheadas do conteúdo que os gestos e as atitudes sempre lhes oferecem, quando os dias não as pretendem ver abandonadas nesse famoso orfanato das boas

“O dedo fez-me cócegas”

Há uma fonte em pedra construída pelos Homens, um círio aceso ao lado de um altar debruado a flores; e a fé é água viva que corre pelos tempos atravessando gerações, e luz que alumia caminhos desenhados por inspiração do amor.   Um dia, em 14 de Maio de 1982, em Vila Viçosa e à esquina da Casa dos Cantoneiros, juro que o meu olhar se cruzou com o de João Paulo II. Não foi preciso o dia de hoje para saber que nesse instante, como em muitos outros instantes em encontros com tantos anónimos sem altar, os meus olhos beneficiaram do privilégio do olhar de um santo. E santos são sempre aqueles que nos desafiam a ser maiores. Hoje, à hora em que subia ao altar o dono do olhar que me tocou algures pelos meus quase dezasseis anos; em Lisboa, os meus sobrinhos João e Luís, recebiam o baptismo, e eu, testemunho-o, e sou o mesmo ali entre a fonte e o círio, escutando a água e olhando a luz, reconhecendo em mim a mesma fé numa genética de esperança que me sai directamente da alma. A espera

Esta persistente chuva de Abril

Caem intensas e são infinitamente muito mais do que apenas mil, as persistentes gotas da chuva deste estranho mês de Abril. É primavera, mas sobre o Tejo, as nuvens invejam do meu olhar, a vontade, e abraçam despudoradamente a ponte e um velho cacilheiro, móvel ponto laranja na perseverança da travessia até à bênção do chão de Lisboa. Eu, dono de tantas e tão doces lembranças de um Alentejo ao sol pejado de estevas e giestas, entrego agora os meus passos às calçadas desenhadas da Cidade Branca, que tal como as veredas do campo, também são minhas. E um Homem feliz… É um Homem assim como eu percorrendo todos os caminhos que sente como seus, as “ruas” que lhe são sugeridas pela alma e que são mães e cúmplices de todos os seus sonhos. Nesta manhã, percorro a Avenida com nome e resquícios da festa da Liberdade, e, não tarda, chegarei ao Rossio, a praça que coroada pelo Carmo e pela Trindade, imbatíveis, é estrela maior da velha Olisipo e que, pela genética da própria cidade, não

O meu país de Abril

No meu país de antes de Abril, a criatividade tinha o sabor dos dois pedaços de pão que a minha avó entregava ao meu pai para a merenda; um maior que fazia de si próprio e o outro mais pequeno que ele teria de imaginar ser o inacessível queijo. À hora do jantar, a açorda carregava em si a “generosidade” dos senhores abastados que entregavam à Avó Natividade o azeite que sobrara do fritar do peixe. No meu país de antes de Abril, o Tio Zé aprendeu o valor do livre pensamento no instante em que dois homens lhe bateram à porta pela madrugada e o esmurraram e lhe partiram dois dentes ainda antes de lhe dizerem que o iam levar para Caxias. O outro, o livre pensamento que é raiz das artes, era riscado a azul e eliminado do som dos dias. No meu país de antes de Abril, a minha mãe cumpriu o previsível fado da sua condição quando foi aprender a costurar apesar de ser uma das melhores alunas da sua classe e pretender continuar a estudar para cumprir a sua vocação de professora. O meu p

As casas que guardam as palavras

Hoje é Dia Internacional do Livro e por isso me propus o difícil exercício de seleccionar dez obras que me marcaram nas diferentes fases da vida. Fico com a clara sensação de que faltam aqui muitas mais, mas estas recordo-as pelas histórias e pelo muito que representaram para a minha própria História. Partilho convosco: Os Cinco na Quinta Finniston (Enid Blyton) Poderia colocar aqui qualquer um dos 21 livros que compõem a colecção de “Os cinco”, estive muito indeciso entre este que é o número 18, e o 10 que é “Os cinco no Lago Negro”. Optei pela Quinta Finniston porque foi o primeiro que li. Nas tardes de Vila Viçosa algures entre os meus 8 e 10 anos, quantas aventuras e quanto desejo de comer scones e beber limonadas. Platero e eu (Juan Ramón Jimenez) A Andaluzia é afinal tão próxima do Alentejo e como é bom descobrir que as coisas realmente importantes estão afinal guardadas nos detalhes mais simples. São os privilégios de quem é do campo. Homem rico, homem pobre (Irwin

Estatísticas, leões e os verdadeiros campeões

O facto de ser Benfiquista encartado e com lugar na “Catedral” e ter um pai sócio do Sporting acrescenta ao meu curriculum quase 48 anos de convívio à mesa com o anti-Benfiquismo, ainda por cima com essa particularidade de uma desenvolvidíssima tolerância feita de tantos silêncios incómodos, pois uma coisa é o futebol e outra coisa é o respeito pelo meu progenitor, o que será sempre superior às militâncias clubistas. Mas mesmo assim e com todo este treino, os últimos dias têm sido insuportáveis. Por favor deixem-nos ser felizes que eu acho que até merecemos pelo que jogámos. Já não aguento mais ouvir os Sportinguistas a falarem do leão do Marquês de Pombal. Meus amigos, de uma vez por todas entendam que nós fomos celebrar para a rotunda tão-só porque nos identificamos com o Sebastião José de Carvalho e Melo, o homem que reconstruiu Lisboa por sobre os escombros do terramoto de 1755 e que, tal como nós em relação a vocês, está ali no alto do pedestal há décadas a conviver com u

Campeão

Há um pedaço de céu no instante de cada golo; e no mágico impulso que alma me oferece, os braços erguem-se no ar, a garganta solta um grito e o corpo salta matando a idade, os incómodos, os cansaços e todos os demais e racionais detalhes do ser. Sou Benfica… e se o não fosse não seria eu. Sou vermelho da cor das papoilas mas muito mais da força do sangue que é o fluir intenso da melhor vida. Sou uma voz entre tantas vozes no cantar sublime que sempre carrega a vontade, a superação… uma vitória. Sou um entre milhões na partilha de uma esperança que nunca morre porque mesmo quando a derrota nos faz ajoelhar, sabemos que a genética de campeões imporá o pular para o céu no instante que chegará imediatamente a seguir. Sou povo muito mais do que tudo ou apenas um clube, assumido plebeu inspirado na força de muitos heróis; Eusébio e Coluna, reis no trono dos grandes e instalados por mérito nos anéis infinitos dos etéreos estádios, bem acima dos panteões de todos os Homens. Sou ág

Aleluia

Há amêndoas sobre a mesa, o fruto revestido de açúcar que do arco-íris tomou as cores para nos adoçar este Domingo de Páscoa em que as nuvens persistem em querer copiar o encanto e o vigor das três bicas da Fonte Pequena aqui mesmo em frente à nossa casa. Aleluia… Sente-se por todo o lado mas é bem visível aqui no brilho das sardinheiras que a mãe tem na varanda, na jarra dos lilases roubados ao quintal por estes dias de Primavera, nas palavras breves trocadas com os vizinhos e com a D. Zárita que compõe os pratos de barro no seu quiosque com lembranças do Alentejo; aleluia nos sorrisos ao redor da bica por entre as memórias e as dores e alegrias do presente.   Aleluia… Em tudo mas sobretudo em mim. Serei sempre eu quem optará pela reclusão escura de um sepulcro ou então quem iluminará os dias retirando à força as pedras, os biombos, os falsos pronomes que mascaram a minha verdade. E é o degustar dessa verdade que faz os dias rimar com as amêndoas em cor e sobretudo em sab

A inédita arte da reciclagem dos pastéis de nata

Sempre que o pai lhe levava da Pastelaria o seu bolo favorito, o Pastel de Nata, a minha amiga Rosa Silvério comia o creme com a ajuda de uma colher e entregava posteriormente a estrutura restante de massa folhada para que o pai a levasse de volta ao pasteleiro e ele a voltasse a preencher com a sua iguaria favorita. Este inédito processo de reciclagem não se aplica definitivamente aos Pastéis de Nata, mas aplica-se à vida… Ontem cumprimos o prometido e por entre os aromas das flores das laranjeiras de Vila Viçosa, sentei-me na Pastelaria Azul com a Zézinha, a Manuela, o Zé Maria e o Manuel; e não fosse o risco de rebentarmos com os agrafos que restam na barriga da Zézinha e ainda nos tínhamos vingado muito mais a riso e gargalhadas da dor e das apreensões de há alguns dias. A cirurgia foi um sucesso ao ritmo das nossas Ave-Marias e a vida que parecia estar a esvaziar-se está novamente repleta do maior e mais doce “creme” da melhor esperança. E agora que siga a fé pelo futuro.

Estes dias santos

Não resisto a abrir a janela do carro ao aroma do campo de Alentejo e primavera e respiro fundo por impulso de uma infinita saudade. É impossível distinguir o que é o quê no privilégio do odor deste momento, mas o que é certo é que cheguei a casa. Mais além, no cimo do monte por onde se estende a seara, há um sobreiro solitário e meu irmão, que bebe do sol, como eu de ti, a luz, e estende dos seus ramos e pela sombra, o abraço ao tapete verde de onde já emergem rubras papoilas. Sorrio então quase da mesma forma que o farei mais tarde ao chegar a casa e ao colher do pai e da mãe a magia desses beijos que hoje brilham por entre todos os cheiros dos bolos da Páscoa, o resultado da visita anual ao livro de receitas da Tia Maria Teodora, o testamento perfeito que perpetua a festa dos nossos sentidos. Já está posta a mesa para o chá… Por entre os bolos de sempre coloco o Pão-de-Ló do Mário e brilham assim novos afectos por entre os afectos eternos. O presente cola-se ao passado,

Palavras ao vento

Sente-se a brisa do Tejo quando o sol se põe e a fachada dos Jerónimos emerge num tom verde que rima com a fonte da Praça do Império, a explosão artificial de água que à mercê do vento acaba quase sempre por me vir beijar o rosto quando sou apenas mais um na grande MARCHA DOS DESALINHADOS que por uma noite abre uma excepção e se alinha na disposição de matar saudades recuando vinte anos e reencontrando o FADO e a história de tantos dias felizes. Por instantes olho à volta mais do que para o palco e descubro que NÃO SOU O ÚNICO a ter agora cabelos brancos e a ter sofrido um upgrade no volume corporal. E elas são agora senhoras cheias de madeixas louras. Estamos todos diferentes mas parece que só por fora… afinal, quem NASCE SELVAGEM jamais se rende a “gaiolas”, e isso percebe-se claramente quando todos juntos abrimos as vozes e se solta o tom de LIBERDADE da nossa genética de “filhos da madrugada” e cantamos a urgência do querer que sente que AMANHÃ É SEMPRE LONGE DEMAIS. Esto

O Gólgota e o pesado caminhar da cruz

Na noite de Terça-feira Santa da minha terra, a paixão saía à rua na forma de um lento e compassado caminhar ao redor de andores envoltos em panos negros. Santos sem rosto e sem nome, as trevas carregadas aos ombros dos Homens sobre o granito das calçadas em direcção ao Castelo, território de tantas lendas e mistérios onde a esta hora apenas reinavam as sombras, muito mais do que a luz ténue de um velho candeeiro pendurado algures na porta da Torre de Menagem. Na noite desta minha Terça-feira Santa estou sentado no sofá da casa de onde espreito o mar, não caminho em direcção ao Castelo mas deixo-me levar pelas lembranças de uma conversa que a tarde me revelou no corredor do Centro Comercial por entre a alegria do reencontro com um velho amigo, um cúmplice de muitos anos. Despedido aos 54 anos, reformado aos 57 no limite do subsidio de desemprego e sem qualquer outra solução de vida que não uma partida para Angola inviabilizada por uma terrível Anorexia Nervosa da filha que com 1

MARIA DE LURDES

No dia 11 de Fevereiro de 1983, na sexta-feira que antecedia o carnaval, caiu em Vila Viçosa um grande nevão que nos apanhou na Escola Secundária, já a nova ao Carrascal, onde eu, a Zinha, o Manuel e muitos outros amigos completávamos o 11º ano de escolaridade. Sem telemóveis ou quaisquer outras câmaras fotográficas, registámos esse momento que até motivou na altura a dispensa das aulas, porque tu, mesmo sem ter sido chamada, foste ter connosco e levaste a máquina para fazer as fotos. Não sei se te recordas deste episódio que poderá ser classificado pelo Manuel como mais um momento Memofante , embora eu tenha que reconhecer que para chegar à data exacta me socorri de um calendário perpétuo; mas achei importante começar por aqui porque este instante reflecte aquilo que tu és na vida e que nós agradeceremos sempre: a eterna amiga que pensa mais em nós do que nela própria e a pessoa que nunca falha na hora de nos tornar mais felizes. Quem diz amiga poderá dizer filha, irmã, profess

As histórias, os sonhos e as vontades numa tarde do Porto

O Homem é um pedaço vivo de História caminhando de encontro ao sonho por impulso e rota da sua vontade. Na tarde de sábado no Porto e enquanto o mesmo sol que beija a Foz nos entrava intenso pela larguíssima vidraça para projectar nos nossos rostos as sombras das flores mais fantásticas do jardim, a sala foi uma grande mesa de amigos sentados à conversa. Era uma vez… O meu carnaval de 1972, quando a minha mãe me desenhou e costurou um fato de estudante com a capa e a batina a serem preparadas a partir de um conjunto de saias pretas da tia Maria Teodora que assim ficou sem roupa para fazer o luto do tio Alexandre que infelizmente partiu de aí a muito pouco, é a parábola de uma História, a minha, “tecida” a partir de tantas coisas simultaneamente grandes e simples que jamais desistirei de pôr em palavras para que assim elas se perpetuem juntamente com os heróis que as passaram como herança. E de “saia em “saia”, palavra em palavra e de memória em memória, na tarde solarenga do P

Roma e uma tarde de Abril

O sol, infalível maestro do tempo, ameaça no horizonte o adeus que traz a noite, e já se sente no rosto uma brisa fria que de aqui a pouco, e porque sigo a passo rápido, se tornará uma agradável companheira. Estou junto ao Coliseu de Roma e cruzo-me com uma multidão que não tem idade… porque tem todas as idades. Há o som de múltiplas falas, há turistas, peregrinos, padres... e uma cidade é eterna quando é assim muito mais do que um espaço que cruzou a História, e é este interposto universal onde se cruzam e se fundem vontades e credos. E igual a Roma poderia ser o mundo inteiro se nos dispuséssemos a fazê-lo perfeito acolhendo os outros. Eu sou apenas mais um na multidão, e a andar depressa porque quero chegar a São Pedro a tempo de ver o pôr-do-sol. Vou pela fé ao túmulo de Pedro e João Paulo II com uma mão cheia de intenções que têm nomes de amigos. E quem caminha pela fé, fá-lo sempre ao jeito de quem ama... e nunca caminha só. Quando cruzo o Tibre já tenho a certeza

Yá meu. Tass.

Decidir cortar o cabelo numa tarde de Abril em que os estudantes do secundário estão em pleno gozo das férias da Páscoa é mergulhar inadvertidamente num caldo efervescente de hormonas masculinas que nos afogam tudo e sobretudo a paciência.   Em estágio para, mais ano, menos ano, irem todos em grupo até Torremolinos, Salou ou qualquer outra estância turística espanhola onde possam atirar sanitas e mobiliário pelas varandas dos empreendimentos; estes adolescentes (uma meia dúzia) resolveram ir aparar o cabelo, mais do que cortar, levando nos i-phones e outros aparelhos móveis de comunicação, os modelos / penteados dos seus ídolos que, confesso, é gente de quem nunca ouvi falar. O cabeleireiro é um daqueles locais de Centro Comercial onde é possível fazer um “corte expresso” quando nos sentamos numa das dezenas de cadeiras onde, de máquina ou de tesoura em riste, actua um grupo de homens vestidos de preto e com nacionalidades que entre a América do Sul e os Balcãs, mais parece o baln

Os caminhos tecidos pela engenharia da vontade

No recreio da minha primeira escola em Vila Viçosa existia a oliveira que eu adoptei como avião, e havia uma zona de terra com muitas pedras que nós usávamos como carrinhos depois de termos desenhado as estradas, as bermas e os parques de estacionamento; um complexo processo de engenharia que consistia em fazer deslizar as pedras maiores pelos sítios onde o barro se mostrava mais vulnerável às nossas parcas forças de crianças com idades algures entre os seis e os nove anos. Por estes dias de primavera, espreitávamos sempre a vinha da Horta do Reguengo que ficava do outro lado do muro, e contemplávamos as tulipas vermelhas que cresciam rebeldes entre as cepas, escutando mais tarde em casa, ao serão, a lenda das marcas do sangue do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luis Filipe, assassinados em Lisboa quando regressavam de comboio desde a nossa terra. A lenda contada por cima do facto de alguém um dia se ter lembrado de estrumar a vinha com milhares de bolbos de tulipas abandonados e apod

Atravessar a “verdadeira” guerra por entre o sol da primavera

Quando regressava ontem a Lisboa e finalmente em pleno gozo de um sol de primavera, tive na A1 a percepção de que o único e grave problema do país é o excesso de velocidade nas auto-estradas. Entre radares, veículos e homens colocados estrategicamente à sombra, aqueles quilómetros de asfalto apresentavam um estatuto algures entre o “Big Brother GNR” e a “Casa dos Segredos” sem Teresa Guilherme mas com a “voz” em tom “tinoni”. É que não fossem as acelerações e este país assumiria um incrível estatuto de paraíso… Na Área de Serviço de Santarém, um grupo de homens daqueles que têm ar de ser patrocinados pelo “Rendimento Mínimo de Inserção”, saiam de um veículo da marca Mercedes para tentar impingir “i-Phones” de 20 Euros a incautos cidadãos já com alguma idade que regressavam de Fátima e que ainda traziam um lenço colorido ao pescoço. Passei por eles e entrei na Casa de Banho onde os membros de uma claque de futebol de um clube com nome impronunciável se entretinham a pontapear san