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A mostrar mensagens de janeiro, 2012

Diamonds are forever

Ia já no final o verão de 2003 quando fui informado de que iria ter uma colega nova a trabalhar directamente comigo. Vinha de uma outra empresa e a primeira actividade que teríamos juntos, imediatamente pós-férias de verão, era uma reunião de alguns dias em Barcelona. Sem tempo ou oportunidade para nos conhecermos antes, falámos ao telefone, combinámos um ponto de encontro no aeroporto de Lisboa, descrevemo-nos e assim nos descobrimos no meio da enorme massa de gente que por essa altura sempre se movimenta na “apertada” Portela. Fizemos o check-in juntos, viajámos lado a lado e aposto que quem nos visse desde o primeiro segundo, acharia que nos conhecíamos do tempo da instrução primária. Com base na maior cumplicidade, aproveitámos os dias intensos de trabalho na Cidade dos Prodígios, como chamou a Barcelona, Eduardo Mendonza, no seu magnífico livro, para de forma prodigiosa fazermos enraizar uma sólida amizade. Daquelas amizades fantásticas e raras que nascem sem se saber bem de on

Uma bica cheia…

Eram os sábados que me proporcionavam um dos primeiros prazeres que descobri em Lisboa quando aqui cheguei em 1984. Manhã cedo, aproveitando aqueles raros momentos em que os carros, os eléctricos e a gente, não conseguem abafar o ruído dos nossos passos na calçada, saía do Príncipe Real onde vivia, descia pela Rua da Rosa até ao Chiado, para através da Rua do Carmo chegar ao Rossio e sentar-me no Nicola a ler o jornal ou um livro, enquanto o corpo acabava o seu despertar pela força e pelo aroma de uma bica quente. O Nicola respira Bocage por todos os poros, e muitas vezes, quando os olhos descansavam da leitura e miravam para o infinito arrastando com eles o pensamento, imaginei que terá sido por certo por ali, e pela força da sua solidão de poeta, que um dia lhe surgiu esta necessidade de se unir ao poeta maior da lusitanidade, escrevendo: “ Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! ” A busca das cumplicidades para a construção do conforto d

De humildade, paixão e sonho…

Massimo Bottura é italiano e um dos melhores cozinheiros do mundo, “dono” de três estrelas Michelin. Numa entrevista esta semana ao jornal Expresso, afirma que “há três ingredientes-chave para um bom cozinheiro: a humildade, a paixão e o sonho”. Acrescento eu que para em tudo nós podermos ser grandes, estes são os ingredientes. A humildade dá-nos a inspiração e motiva-nos para querermos sempre ser melhores, ultrapassarmo-nos e ir mais além, a paixão dá-nos a garra, a força e a energia que alimentam esse caminho, e o sonho permite que os objectivos que perseguimos voem muito para além daquilo que parece óbvio e alcançável à primeira vista. De humildade, paixão e sonho se fazem pois os grandes Homens. Contrapus esta entrevista e esta reflexão a uma longa conversa tida ontem durante um longo e muito agradável jantar de amigos, em que inevitavelmente falávamos desta encruzilhada que vivemos como nação e de como nos faltam referências vivas, heróis e Homens grandes que nos congreguem e

Um anjo sentado

Quem no período da manhã já entrou alguma vez na sala de alunos do Hospital de Santa Maria em Lisboa, conhecerá a confusão que habitualmente reina naquele espaço, que sendo amplo e cheio de mesas, é ladeado por dois bares muito procurados por todos os milhares de pessoas que por motivos profissionais ou na busca da resolução dos problemas de saúde, seus ou dos seus familiares, diariamente entram naquele hospital. Entrei com um colega e colocámo-nos na fila do pré-pagamento com o objectivo de obtermos a senha que nos daria acesso a uma merecida bica que nos confortasse o corpo em dia de sol mas com muito frio. Concentrados na conversa de trabalho, sem que nos déssemos conta, acabámos por bloquear a saída, pelo que alguns momentos após termos chegado à fila, fomos interrompidos por um senhor com uma idade algures na casa dos quarenta, que manobrando a sua própria cadeira de rodas, se nos dirigiu: - Os senhores deixam-me passar? Sabem, vou sair porque já estou cansado de estar sentado.

Morrer sozinho

Entrámos quase ao mesmo tempo para a empresa onde ainda hoje trabalho. Nunca nos cruzámos em departamentos ou projectos e por isso o nosso relacionamento, embora no espaço profissional, foi sempre de âmbito muito pessoal. Ao pequeno-almoço, ao almoço ou na volta pós-almoço que dávamos com os colegas pelo jardim, falávamos de tudo e de nada em especial. Recordo-me sempre da forma como orgulhoso falava da sua família e também e sobretudo, de que nos riamos muito. Chegou um dia em que eu permaneci na empresa e ele saiu. Nunca mais o vi e só fui sabendo notícias à distância, e estas, eram invariavelmente a via crucis dos tempos modernos: desemprego, divórcio, separação dos filhos, perda de auto-estima, falta de forças, de vontade e sobretudo de oportunidade para arranjar outro emprego… A partir de determinada altura deixámos de ter notícias e procurámo-las afincadamente. Sempre que nos juntávamos ou nos encontrávamos com pessoas que sabíamos serem amigos comuns, lá vinha a pergunta:

Guimarães 2012

Diz-se que Portugal nasceu em Guimarães, pois aí cresceu o sonho e daí partiu D. Afonso Henriques a conquistar e a “fazer” Portugal. Oito séculos de história numa unidade única e recordista na Europa e no mundo, dão legitimidade ao sonho do nosso Rei que mais do que Conquistador, foi o Rei Inventor de Portugal. Património Português desde sempre, da Humanidade pela UNESCO desde há alguns anos, não espanta pois que após Lisboa em 1994 e o Porto em 2001, seja Guimarães a terceira cidade Portuguesa a merecer este título de Capital Europeia da Cultura. Guimarães 2012 é hoje oficialmente inaugurada. Julgo que saberão que o país que no contexto da então CEE propôs a identificação em cada ano de cidades Europeias como Capitais Culturais, foi a Grécia, justificando a sua proposta como a necessidade de atrair as atenções sobre espaços urbanos que pelo seu património histórico, artístico e cultural, eram exemplos vivos da riqueza cultural da Europa. A Grécia, pátria do pensamento moderno e da

Os novos / falsos pobres

Confesso-vos que fico em dúvida se me irritam mais os novos-ricos com o seu exibicionismo bacoco ou os novos pobres, não aqueles que verdadeiramente o estão e são, porque os últimos tempos têm empobrecido meio mundo, mas aqueles que sem legitimidade e com os bolsos cheios de dinheiro, apanham a onda da crise e se apresentam como “desgraçadinhos”. Ontem em declarações à imprensa, o mais alto magistrado da nossa nação, o Presidente da Republica, queixou-se de que as suas reformas, e nem soube dizer quanto somam no total, mas que correspondem por certo a milhares de Euros, não lhe chegam para pagar as despesas e que tem de se socorrer das economias que foi fazendo ao longo dos 48 anos que leva casado. Esta história do desgraçadinho vem na linha de um outro desabafo feito há algum tempo sobre a injusta reforma da sua mulher. Será que o senhor Presidente da República não tem a noção pelo pudor de que estas declarações são uma ofensa para a generalidade dos Portugueses que trabalharam tan

A rosa Joaquina

Quem teve o privilégio de como eu ter uma infância feliz, por certo beneficiou da presença e das cumplicidades de uma pessoa como a minha tia Joaquina Rosa. Irmã mais nova do meu avô materno, não quis o destino que gerasse os filhos que lhe permitissem cumprir a sua vincada vocação de mãe, mas como não era mulher de se deixar vencer, juntamente com o marido, o tio Zé, foi “adoptando” várias gerações de sobrinhos. Eu fui um dos beneficiários. Na sua casa minúscula, o que faltava em espaço sobrava sempre em mimos e carinhos, expressões de quem muito ama e se despoja de si para antes de mais, fazer os outros felizes. A tia Joaquina estava em casa nas suas lidas domésticas e o tio Zé trabalhava numa oficina de mármores algures a meio entre S. Bartolomeu e o Carrascal, manobrando uma máquina grande que polia as pedras. Quando o tio chegava a casa, ainda tinha tempo e forças para se sentar no quintal a fazer polidos cinzeiros de mármore que vendia com o objectivo de melhorar o orçamento f

A diálise do liberalismo

A diálise, numa perspectiva físico-química, trata-se de um processo em que duas soluções com composições e concentrações distintas, interagem através de uma membrana semi-permeável, permitindo que após algum tempo tenham a mesma composição e concentração. Na hemodiálise e por incapacidade do rim para agir como filtro, o sangue é sujeito periodicamente a este processo adquirindo as características que assegurem o bom funcionamento do organismo. Esta semana, uma antiga ministra da educação e das finanças, ex-líder de um partido e deputada no parlamento durante muitos anos, Manuela Ferreira Leite, veio afirmar que para garantir o equilíbrio do sistema de saúde, será inevitável que as pessoas que necessitam de tratamentos de hemodiálise e que tenham mais de 70 anos, suportem financeiramente estes tratamentos. A barreira dos 70 anos é muito interessante pois exprime uma perigosa ideia de que o estado deve descurar aqueles que se encontram mais perto do fim da vida, o que é estranho pois t

O cerco

11 de janeiro de 2012 / 7.30h Chego ao IC19 e não reconheço aquela que durante muitos anos foi uma das vias mais congestionadas do país, definitivamente a mais problemática das entradas em Lisboa, apelidada então de “Itinerário Caracol”. Do nó do Cacém ao nó da CREL, os oito quilómetros que antes, a esta hora da manhã, fazia em três quartos de hora, faço-os hoje em cinco minutos. A crise, associada ao aumento do preço dos combustíveis, deixou os carros nas garagens e nas pracetas, reconciliou a população com os comboios e por certo fez com que a célebre Associação dos Utentes do IC19 tivesse virado uma agremiação ao estilo de reunião de antigos alunos ou uma espécie de equipa de saudade composta por futebolistas reformados. O pensamento transporta-me então para o carrocel da crise: Imagino que o conforto da alternativa comboio saia beliscado por um aumento brutal de todos os transportes públicos, medida aliás bem explicita no memorando de entendimento com a Troika. Valha-nos então

Casas surreais

O colorido das capas das revistas acaba sempre por chamar a minha atenção quando me dirijo à banca para comprar os meus jornais de fim-de-semana. Hoje não foi exceção e apercebo-me que sem que eu tivesse dado conta do aparecimento ou meteórica ascensão, a pessoa mais importante por estes dias em Portugal é um tal de João M, M ao que parece de Mota. As revistas destacam os locais que visitou, quem o acompanhou, o que comeu, bebeu e fez, um individuo cujo único “mérito” foi ter ganho o programa “Casa dos Segredos”, uma espécie de “Big Brother” de terceira geração, afinado à mais avançada e requintada mediocridade. Ele domina e só não tem o pleno porque há princesas e infantas que sofrem porque os seus eleitos as traíram ou se apoderaram de bens de uma forma ilícita. Sabendo-se que as revistas se limitam a publicar o que os compradores e os leitores gostam de ler, é fácil concluir que a maioria da nossa gente cresceu em altura, retirou as fraldas, a chucha, aprendeu a comer sozinho, m

2012 – Que não se nos morram os sonhos

Na manhã deste tempo novo, saboreemos a esperança de dias preenchidos de paz, dias felizes construídos pela nossa vontade e segundo os planos do coração. Sejamos nós sem vergonhas ou medo e acreditemos com garra e com fé, que da coerência do compromisso com esta individualidade do nosso ser, pelas mãos estendidas em oferta, seremos com todos os demais, arquitectos de um mundo nascido das raízes da tolerância. Amemos sem reservas. A nós, aos outros, a Deus e à vida. Não coloquemos reservas e travões ao prazer, sinfonia nascida da harmonia perfeita dos nossos corpos. Comamos, bebamos e não desperdicemos nem um só dos segundos em que a pudermos sorrir ou rir a soltas gargalhadas. Não adiemos nada do que a vontade nos impõe fazer. O passado já foi e o futuro o que será não sabemos. Nem de recordações nem de hipóteses se faz a vida. Só o presente importa e vive-lo é viver a vida. Façamos das palavras, dos gestos e das atitudes, a linguagem da alma e sementes da paz que queremos à noss